Esgueirando-se nas sombras,
sarjetas trevosas do Inferno,
impiedoso deserto de memórias,
insuportável frio de inverno,
um cangaceiro das esperanças,
saciando a sede com areia.
Por fora sente um calor intenso,
por dentro, o frio de uma geleira.

Lamentar-se não era seu objetivo,
mas tornou-se a sua prisão.
Na lembrança de um infortúnio
ou na avidez de uma cobrança.
No passado, a sua vergonha,
no futuro, a sua maldição.
O terrível medo da desonra
divide o sonhador da esperança.

Neste teatro de ideias
existe uma regra combinada:
num dia a imaginação te aprisiona,
noutro dia ela te liberta!
Como a fala de um artista
fora articulada por um escritor,
a liberdade de uma vida
já foi sonhada por um poeta!